domingo, 27 de junho de 2010

A Essência e os Guaranás



Olhavam o tempo passar junto às margens do Guaraná sentados no tronco deitado sobre a terra. Lá o tempo passava como passava o rio, as vezes rápido, outras vezes mas devagar, mais calmo.

O rio não tinha esse nome, tinha um outro qualquer que não tinha a mesma graça nem trazia o mesmo sabor às suas memórias e também porque assim como é da natureza do rio, fluir, é da natureza dos pequenos dar nomes. Chamaram-no assim, pois mais ao longe, mais perto na nascente tinha uma árvore ancestral de guaraná. Tão velha que ao envergar-se para trazer a sobra ao rio, reclinou-se tanto que beijou a correnteza, trazendo a água durante muitos metros com o sabor da sua velhice.

Na primavera essa mesma árvore confeitava o rio de néctar e pétalas, dando ás água o mesmo sabor de sempre, mais doce do que nunca.

Mas ao passo que as folhas iam murchando e se perdendo em fragmentos na água, junto ao sol do verão, o Guaraná se fermentava e então era a vez dos adultos tragarem daquele rio. E quanto mais bebiam, mais rápido o tempo passava e menos eles notavam.

Ao que o tempo trazia o outono o guaraná despejava no Guaraná seu verde vel, que junto com as flores e o néctar já velhos e fermentados, amargavam assim as águas e a vida dos adultos, mas não a dos velhos. Esses não sorviam o líquido no rio, tinham já a tranqüilidade da idade. Imergiam, vasilhas de bronze em suas corredeiras e levavam um pouco do velho vinagre do Guaraná para casa. As águas do Guaraná eram usadas então para temperar o carneiro, que na primavera pastou, no verão trouxe a lã e que agora era posto à mesa.

No inverno esfriava tanto que as águas do guaraná congelavam, e de lá não se sairia mais nada de beber até a próxima estação. Congeladas, estagnadas agora era a vez das águas do Guaraná agradecerem ao guaraná criando junto ao sol, mais belo e plano espelho que era para mostrar á velha árvore o tanto de vida q’uinda tinha.