terça-feira, 19 de abril de 2011

Casquinha de Siri



Tinha sua proteção voltada para o mundo ao mesmo tempo que ansiava que o mundo lhe desse assim, de mãos beijadas, alguma aventura. Sua contração era sua própria contradição. Se fechando às dores, às magoas, à derrota, acabava por fechar as portas pelas quais quisera que entrasse a gloria.

Sua casca cuidadosamente posta, parte por parte, depois de cada decepção, derrota, dor, já era tão magistralmente maquinada que até poderia se mover, perambular pelos caminhos insertos sem se preocupar com as incertezas dolorosas que viriam. A casca estaria lá para protegê-lo, sempre cerrada, sempre firme.

Ao andar não notava, mas os passos passavam a ser cada vez mais curtos, o próximo sempre mais sôfrego que o anterior. Não notava, mas seu corpo transpirava a media que ele ia em direção ao sol. A casca que já era pesada, agora assava as partes que atritavam contra o interior da proteção. Até o momento que ele se viu cansado. Cansado de carregar aquilo que passara em instantes da sua salvadora ao seu fardo. Desistiu, destacou a proteção que aos poucos o destruía.

E o jovem, nascido em meados de julho, pela primeira vez em anos, abriu os olhos do lado de fora da casca e notou que se encontrava em uma praia maravilhosa. Notou que fazia calor, mas que o vento o deixava confortável. Ouviu pela primeira vez o som fragoroso das ondas, aquele que dentro da casca fazia um chiado insistente. Finalmente o jovem há tanto recôndito, notou que não estava só.

domingo, 3 de abril de 2011

Armadura de Papel


Por que é que todo mundo quer que tudo dê certo? Que mal há em ser uma criatura errante, dessas que tropeça e cai e que pra não cair de novo não se levanta e passa a rastejar como o verme que sempre foi?

Eu mesmo quero que o maior erro de minha vida seja a minha própria vida. Desfrutar da maior vantagem de um ser vivente, errar. Desejo errar o alvo, a porta a ser batida, o caminho de casa. Ah como queria errar o caminho de casa e ver em que esquina parar, provavelmente, com toda a violência dos dias de hoje, eu seria abordado por um assaltante medíocre, e este simplesmente me pediria a hora. Errei, era um simples vivente como eu.

Quero a palavra errada para a pessoa errada, mas na hora certa, aquela inapropriadíssima hora. E com tantos caminhos tortos poderia traçar uma reta rumo ao desconhecido, num universo de possibilidades, um abraço às coincidências.

Eu gostaria de ser o engano dos outros. As pessoas me confundiriam nas ruas em quanto eu confundia as ruas que desembocam no sopé do meu casebre, conheceria gente que também erra, e que ri do próprio erro. Gente que fala errado, que ouve errado e ama errado. Nisso eu caibo, nessa catástrofe do real. Tudo no mundo foi feito pra dar errado, é por isso que dá tão certo dentro da sua proposta.

"Achei que era paixão, mas foi só entusiasmo"; achei que lembrava mas esqueci, achei que sabia tanto, mas errei... Sem a queda não há ascensão e no fim das contas ganha aquele que errar mais.