segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

É Bobin, mas é legal =P



Moça

-Moça bonita do meu coração,
De vestido vermelho com babados em branco,
Para que desces essa colina de tamanco?
-Olá estranho atrevido, é que estou descendo ao galpão.
-E esses baldes para que servem então?
-É pra tirar leite da vaca Mimosa.
-Chamas Mimosa aquela vaca magrela?
-Sim, moço, assim chamo ela!
-E depois, que fazes com o leite?
-Faço doce fervendo com açúcar e revirando na panela.
-Para quê fazes doce?
-Para arranjar um marido!
- Então vou querer um pedaço!
-Não és para ti folgado atrevido.

Eis que então revirou-se o tempo e o espaço.

Então os olhares se encontraram
E a imaginação do moço viu nela
Aquela voz tão amorosa e bela
Cantarolando e revirando a panela
E a moça viu naquele moço folgado
Os olhos brilhantes que procurava em seu amado
E decidiu dar a ele seu coração em forma de leite condensado.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

E Seguem os Cães

A lua iluminava a fria rua,
Os cães já tinham os olhos fechados,
O farol dos carros nem mais incomodava
E de tempo em tempo mais um cão lá se enovelava.

Depois vinha o sol,
E o asfalto voltava a castigar,
Pobres vidas sofridas,
De cães magros sem comida
De costelas secas,
De coração enrugado.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Quase haikai



Os Cães e a Ilha

Os cães se reuniram pela madrugada fria.
Ilha circunda de calor,
Coração terno de amor.

sábado, 21 de novembro de 2009

O Mundo É Um Moinho




O Mundo É Um Moinho

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

Cazuza
Composição: Cartola

domingo, 25 de outubro de 2009

Tristeza Prenha

Olhava dentro das águas caudalosas que passavam entre as pernas naquele dia quente, incomum de outono. O homem sabia que o que estava fazendo ia contra todas as crenças que ele aprendera de menino, mas não lhe importava, era deus quem orquestrara aquela obra.
E no compasso rítmico das mãos, jorrava na água, liquido da vida, aquele outro fluído tão sagrado que logo sumia desfiando na correnteza. Por sua vez, o destino guiava o leite paterno para as entrecoxas das mulheres que se banhavam logo abaixo na cachoeira. Curioso foi que aquele ato que outrora tão profano, imaculava-se pelo sopro do divino e emprenhara apenas as moças tristonhas, sem distinguir outros critérios, como suas raças e suas belezas. Ao todo foram nove infelizardas que deram a luz aos escurinhos pequeninos, teriam sido mais, se algumas não tivessem sido mortas por mancharem a honra das famílias perdendo sua inocência de forma tão inocente.
Os pequenos herdaram do pai a cor e das mães a tristeza, mais que isso, os nove que nove meses incubaram-se em liquido placentário e lágrimas, aparentemente sugaram as tristezas das madres. As moças que antes eram limões, no que foram embuxando foram também se adocicando. Largadas pelos maridos por terem filhos doutra cor, mal vistas pelas moças que também se banharam no rio, mas que não se emprenharam por serem essas, menos melancólicas, as moças seguiram depois do parto, magras, pobres, abandonadas, mas felizes. Os filhos que agora pesavam no pesar de viver, todos sempre lacrimosos. Não importava se fazia sol, nos olhos dos marotos, a chuva era eterna, chegavam a desidratar de tanta tristeza que lhas escorria pelos olhos, com exceção de um. Foi o caso de que Anselma Freitas dera a luz a um e as trevas ao outro. Nasceram gêmeos, isso nem deus poderia adivinhar, mas era até caso de suspeita, já que, enquanto as barrigas todas eram melões, a dela já era melancia premiada de tamanho, mas ninguém se importava, porque as frutas eram todas quase que de pura água.
Do pai nunca lá se soube nada, e a as ex-prenhas se confortavam no ombro de saber que não eram as únicas a terem “filhos do divino”.
Os mocinhos cresceram juntos, jogando bola, empinando pipa e sempre chorando juntos. É que lhes parecia que a tristeza era maior quando conjuntada. Só Miguelzito coitado, era sozinho. Sozinho, mas o único feliz, “o que nascera depois de todo o pranto” como costumava dizer Anselma, mas dizia para que só ele escutasse, não queria ver o irmão de Miguel mais triste que de nascença.
Foi o caso que em um descuido, o irmão de Miguel acabou escutando a quase benção da mãe ao filho que lhe era tão predileto, não só dela. Todas as mães gostavam mais de Miguelito que os outros pequenos que molhavam o colchão de lágrimas.
Aprontou-se então a reunião dos aprantados. O líder do sindicato era o irmão magoado de Miguelzito, e o assunto era justamente ele. O que fazer para parar de chorumelar?
Não era receita certeira, mas acreditaram os novitos que se dessem cabo do feliz, largariam eles do seu momento tão infeliz.
Finalmente chamaram Miguel para brincar em uma tarde em que as mães estavam era remexendo na horta, e não lavando roupas no rio, o que era importante para que ninguém fosse acudir o afogado. Miguel, não sabia brincar de nada em conjunto, por isso se empolgou com a idéia de uma brincadeira nova, e nem se importara com as regras do tal jogo de afogado.
O irmão de Miguel então levou o pequenino no meio do rio em que ganharam vida enquanto os outros meninos olhavam tudo das margens, choravam antes da morte do miúdo, choravam como sempre e mais do que nunca.
O irmão matou o pobrezito Miguel com os olhos imersos em água das lágrimas, Miguel morrera com os olhos e o corpo todo imerso em água do rio de desde quando nasceram atendia pelo nome de Rio das Lágrimas.
Livres das suas tristezas, agora quem chorava de novo eram as mães, que perderam a única alegria alegre de suas vidas.
Os meninos todos agora podiam sorrir finalmente, mas o irmão de Miguel nunca chegou a sorrir, nem mais chorar, agora seu pranto era por dentro, mas fundo na alma. Seu pranto d’alma não era culpa, ele chorava, era de saudade de Miguel.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Comboio



O moço, que sentado no sopé do espelho ao lado esquerdo da porta com o pé assentado ao joelho, percebeu sua boca torta e as rugas lhe invadindo testa abaixo.
O rapaz nunca conheceu o pai a mãe ou a paz. Nascera velho por dentro, infanto apenas numa bruma mais densa que sonho escondinhado. Bastava-lhe agora tornar-se velho por fora, foi o que ele sempre almejou, mas prantou logo que descobriu que aquilo não seria tão logo. Que fazer para passar o tempo? Que fazer nesse meio tempo?
O homem resolveu resolver tudo, passo a passo, o primeiro era sobreviver aos adverços do tempo, do acaso e dos ventos. Isso ele faria sem ser muito certo nem tão pouco tão torto na vida. Depois de achar a solução insábia, ressabiou-se com a segundo passo, arrumar um companheiro. Mas quem em imperfeito juízo seria tão novo quanto ele e tão impaciente de ter que esperar sozinho?
De tanto pensar numa solução, ou em algum louco cidadão, já lhe saíram as primeiras rugas, meio acanhadinhas, vinham debaixo dos olhos e nas labochechas com se fossem as inocentes dobras de um sorriso, mas aquele senhor não se deixava enganar, sorrir era para os desocupados, ele tinha tão pouco a fazer e tanto tempo pra passar que o luxo da simpatia era o que não simpatizava.
E ao perceber as rugas, percebeu algo mais. Quem tão destro para a tarefa de envelhecer no desvairo da espera senão ele mesmo? Os passos estavam andados, agora era só deixar corpo ir, envelhecer. Puxou o banquinho encupinzado e sem recosta, recostou o pé no joelho e ali ficou.
No outro lado o velho sentado no sopé do espelho no lado direito da porta, implorava em pensamento que o menino reconsiderasse e remoçasse.

(Antonio Ganzer)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Terceira Tentativa



O mundo é tão avulso
Porque o amor se esconde assim por debaixo dos panos.
O sentimento é de cada um
E cada um o esconde a sete chaves.

Por que é tão difícil dizer que se ama alguém?
É por medo que o sentimento dado
Não seja tratado com o devido valor?
É por isso que escondemos o amor?

Acho que o sentimento nunca é dado,
Nem dado por dado,
Ele sempre pertenceu ao “alguém” amado,
E é apenas reivindicado, só que com a suavidade
De algo que não se é tomado à força,
Muito menos sentimento roubado.