quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ramos de Graça



Uma multidão olhava nos olhos daquela imensa criatura. Nem todos os dias teriam aquela chance. Sentir-se pequenos e impotentes fazia parte de suas rotinas. A rotina também não fez parte daquele cair de tarde. Ao saírem de seus cubículos, de seus escritórios, seus grandes nadas, seus batentes, teriam eles, voltado para casa, como rancor e fatigados, com a mínima vontade de abrir suas bocas inutilizadas pelos patrões, chefes e donos, que lhes queriam calados, robótico, asmáticos. Sim, em dias e dias, passariam calados pequenos e impotentes, mas não naquele poente rosado. Esse foi o dia de serem sim, pequenos como sempre, menores que o habitual, mas fortes como se a rotina fosse a esperança, lhes desse forças em cada vez que se sentiram obrigados a ser cabisbaixos, a se absterem à força e engolir a própria voz, que tem ganas por liberdade. A rotina também, naquele dia e em nenhum outro, animar-se-ia com o acúmulo de amarguras, cuidadosamente coletada, sem que sobrassem folgas, compactada para que coubesse mais, sempre mais, feito coração de mãe. Naquele dia sorriram fitos naquela criatura colossal, que impotente, flagelando-se com o atrito na areia, esperava não ajuda, era sábia a criatura, sabia que esperava era o vencimento, a derrota, a derradeira. A criatura por sua vez olhava-os pela primeira e única vez, com um “quê” de fascínio, mas mais ainda com um olhar dócil e paterno. Era ela Pai porque na dor e na incapacidade de se ajudar, ajudava-os. Pai, sim, pois sabia que tudo que um pai mais pode dar ao filho é a grandeza, e isso, ela tinha de sobra. Grandeza, nunca grandiosidade, pois quem está fadado ao fracasso, nem ao menos saberia o que fazer com a grandiosidade, ela apenas pesaria neles. De certa forma, também considerava-se “monstro”, mas mostros, cada um deles já era, ela sabia, desde antes do dia em que disseram suas primeiras palavras.

Tocavam-na sem carícia e carentes, todos tanto, tão transformados, tão deformados, já andavam ocos. Encostavam as faces em redor de sua grande boca, como se querendo ser engolidos, levados com ela para aquele lugar nenhum de descanso (recesso, como chamariam). Fita, notou que no fundo não queriam o interior de sua boca de Pai, queriam apenas um beijo, grande beijo que só ela poderia lhes oferecer, mas que se oferecido, negariam, queriam mesmo era roubá-lo.

Já no cair da tarde, no desfalecer das forças, aquelas últimas, eis que veio a lua. Majestosa, distante imponente como jamais seriam aqueles todos a quem observava. Com a lua a maré subiu.

Então no cair da tarde, com as útimas forças, a baleia conseguiu desencalhar, virou-se lentamente, e nadou em direção ao reflexo de sua heroína.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Albergh...



Abriram um albergue,

Só para mendigos.

Já na primeira semana,

Tiveram que tirar

As barras dos banheiros

E as cordas das cortinas.