sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O Capitão da Praça da Capital




Era um mendigo, mas era orgulhoso, não aceitava caridade, tinha era a ousadia de pedir esmola, um parvo pra quem via de longe. Uma coisa era verdade, nas ruas da capital não se via mendigo tão bem arrumado como ele. Vestia uma camisa pólo branca e amarelada nas axilas, calças sociais normais exceto pelo furo nos fundilhos, sapatos belos e surrados , um cap de marinheiro e uma barba de fiapos cor de prata. Era um mendigo orgulhoso, mas era doce, como sabia ser doce aquele louco que contava histórias fantásticas do mar para as crianças enquanto fumava o seu cachimbo com fumo imaginário. Parecia até que as amarguras da vida não lhe abatiam, continuava sorridente e orgulhoso, sempre orgulhoso. Chegava a diminuir o sofrimento dos pivetes com suas narrativas, que se não matavam a fome, ao menos faziam esquecê-la. Os pequenos amavam tanto aquele homem que sonhavam em ser marujos e brincavam de navegar na praça.
A única coisa que aceitou na vida foi um cachimbo e um café de um velho poeta que reconheceu na loucura daquele senhor algum valor na vida, mas não foi por caridade, na verdade se o poeta tivesse mais a oferecer naquele momento, teria dado, certo que sim, mas o poeta não tinha escrito mais nem vendido mais nem nada. É que andava passando por um estado de tristeza maior que podia suportar, até mesmo para um poeta cuja tristeza é tão necessária, e assim andava empobrecendo e mal tinha para pagar as contas, mas tendo ouvido as histórias do mar contadas por aquele marujo desvairado, percebeu que quando a vida não é doce a gente inventa uma fruta qualquer por distração e sobrevive, e que isso era belo.
O poeta lançou um livro e dedicou “ao mendigo orgulhoso da praça” e enriqueceu com o livro. Tentou doar parte do que arrecadara com o livro que andava de vento em popa, mas era, como todos sabiam, um mendigo orgulhoso...
O poeta continuou sua vida e sua fase ruim um dia passou, e continuou escrevendo, ora vendia bem, ora mal, mas continuava vivendo, e com gosto.
Certo dia, chovia nas ruas da capital e também nos olhos dos pobrezitos que mendigavam pela praça, “O vovô Capitão, que nosso senhor o tenha faleceu hoje de manhã ” disse a índia mãe dos pequenos. O poeta após saber do trágico acidente pediu à prefeitura que fizesse algo simbólico por aquela figura que a todos era tão cativa e doce. A prefeitura consentiu por ser o poeta, agora que era famoso, tão popular e influente. Pois bem, heis que fizeram um memorando no centro da praça:
“Aqui dormia o mendigo mais cativo de história do mundo, capitão dos pivetes grumetes e senhor das maiores aventuras marítimas jamais vistas”
Atrás do memorando foi plantada uma árvore. Com os anos ela cresceu, cresceu e ia se tornando cada vez mais frondosa. Em certo outono, quando caíram as folhas todas, para a admiração geral, a árvore tinha o formato de uma nau. E por serem as flores azuladas, quando o vento passava parecia que a nau navegava em meio aos rochedos, que eram na verdade os bancos da praça.
Nesses bancos o poeta passou a escrever, não mais poesias, mas as histórias do mar narradas por aquele senhor que lhe trouxe tanto gosto por viver, que passava diante dos seus olhos, junto à nau que navegava na praça. E lá ele esperava um dia se juntar àquela tripulação.

6 comentários:

  1. Peço que não vejam graça na foto, muito embora seja difícil.=P

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  2. parabéns, tão bons teus textos! (sim, eu estou te elogiando) quando eu fizer letras eu indico você.

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  3. e não tem como não ver graça na foto.
    mas ficou boa pra história.

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  4. me surpreendendo como sempre!
    cheio de candura teus textos, just keep on writting little boy!

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  5. Publica mais garoto, to no aguardo!
    Já tens notícias da UFSC? Besitos, estamos torcendo por ti!

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