sábado, 6 de fevereiro de 2010

Step Sem Stop

Era daqueles que sempre olhava para os próprios pés, por isso nunca sabia para onde estava indo, como voltar ou mesmo quem cruzava por ele.

Caminhava pisoteando no destino, e por não olhar pra frente negava os acasos com o desamor da quem simplesmente não notava. O destino, por sua vez, aquela avenida de sobes e desces, altos e baixos, simplesmente continuava sem nunca acontecer. Quem não olha pra frente nega não só a passagem, mas o futuro. Há sim uma vantagem em olhar sempre pra dentro da calçada, não se tropeça, não se cai, não se fere e não tem que se levantar para seguir à diante.

Quando pisava nultima brasa que fervilhava já o filtro do cigarro, apagava não só uma coisa, mas uma memória, daquelas que permeava o passado com inocência, mas que perdida junto às outras fazia falta.

Seus sapatos eram belos, assim tinham que ser já que não notava outra coisa na face do chão, seu olhar também era, mas esse ninguém notava por estar ele sempre cabisbaixo.

Era daqueles que olhava para os próprios sapatos, sem nunca notar belos tamancos ou mesmo pés delicados, sem nunca cometer deslizes, nem pisar em rachaduras. Andava se esquivando dos cacos de vidro, das poças, das dores, das lágrimas, sem nunca saber para onde ia, sem nunca chegar a lugar algum. Caminhava e descontinuava, fugia do mundo que o acercava acima dos joelhos.

Andando e andando, não viu a pobreza dos mendigos que dormiam empoleirados em papelão, não viu o panfleteiro que o oferecia qualquer coisa que depois se tornaria lixo, não viu o sorriso da moça que o olhava admirada, não viu a cor do sinal de trânsito, não viu o modelo do carro que passou por cima dele... Viu apenas um túnel de luz e a lembrança de seus nobres pés que faziam calo de tanto nunca levá-lo a lugar algum.

4 comentários:

  1. Desculpas a todos que não gostaram do meu título estúpido.=P

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  2. Belo o texto!

    Ganzer! Passei no vestibular! Na Federal de Rio Grande!

    M.F.

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  3. as vezes gosto de ficar olhando para o chão, ou para meus sapatos (os quais não são belos), gosto da idéia de caminhar sem errar, mas sem chegar a lugar nenhum, sem reparar em nada e nem em ninguém. mas é só um 'gosto as vezes' e sempre olho para os dois lados da rua.

    Muito bom o texto almeidinha.
    Abraço!

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  4. Ganzer querido!
    Como sempre, né, chego a ser previsível...
    LINDO teu texto. Me lembra vários passos conhecidos. Levantar a cabeça exige porstura, sustentação...E às vezes a gente não tá pronto mesmo, não é? Bom querido, aproveita bem o feriado e se estiver pela ilha da magia, já sabes o rumo da nossa humilde residência! Beijo!

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