terça-feira, 23 de novembro de 2010

"Felizes Juntas, Felizes Iguais"



Começou com uma simples pergunta. E por que não podiam dormir juntas? A final eram irmãs. Mais que isso, irmãs gêmeas. Tão gêmeas que nunca saberiam diferenciar quem era a Clara e quem a Gema. Não havia marca de perfeição ou imperfeição que uma tinha que a outra não tivesse também.

“Engaçado, jurava ter visto que foi aquela quem tinha se machucado!”. Pensava a mãe olhando a cabeçinha delicada da outra.

Compartilhavam as dores e os cortes, as agonias da vida entre outras tantas coisas que viriam. Entre elas, sabiam quem era quem somente pelo fato de não ser a outra, mesmo assim isso se confundia nas madrugas sonâmbulas.

Certas vezes acordavam à noite para ir dormir com os pais porque sonharam que as duas eram saudades. Sempre que se deitava uma, a que despertava era a outra. Sempre seriam parte, sempre partilhariam a inidentidade. Sempre seriam a dúvida de ser a outra. E nunca nada havia de separá-las.

Então por que afinal de contas tinham que dormir separadas? A mãe, mucama faceira, disse que pelos costumes das terras natais, se não separassem as duas após o berço, uma roubaria a alma da outra por amor, para preservar a amada irmã das crueldades da vida, mas não teve a devida coragem. E elas nunca matariam, por amor e por medo, é que não sabiam quem morreria e a tentativa de assassinato poderia acabar em suicídio.

Às vezes no entorpecente despertar acabavam confundindo as identidades. Sua mãe disse que por essa razão foi que separou as duas no sono, mas sem a irmã ao lado nem sono havia. Dormiam assim, com joelhos sobrepostos, no contato das testas, uma com as mãos no cabelo da outra. Assim sonhavam sempre um único sonho.

Agora em camas avulsas, não dormiam. A fricção dos joelhos magros perturbava, seu cabelos não eram tão sedutores de tocar quanto os da irmã e a parede era mais fria que a delicada cabeçinha da outra.

Certo dia, quando não suportavam mais ser separadas, as duas em um forte abraço e um entrelaçar de pernas uniram-se com tanta força que a mãe temia que na tentativa de dividi-las acabasse por arrancar o braço de alguma delas e sabia que seu destino era esse de viverem unidas e que agora não se separariam mais. A mãe se conformou.

Com o tempo o abraço emendou-se num elo e o entrelaçar de pernas acabou dando um nó. Mais depois já não era mais possível dizer que membros eram de quem. As irmãs se tornaram gêmeas siamesas, e quando morreram o luto foi dobrado e seu caixão tinha a forma de um coração desses meio quadrados.

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